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Mostrando postagens de maio, 2023

Poema

Cresci tendo um terror profundo às noites de domingo. Era um momento de ansiedade , desprazer. Mal começavam as pegadinhas do Faustão eu sentia o coração acelerar. Mamãe dizia que ela tinha me ensinado esse comportamento, sem querer (mas se responsabilizava). Eu mesma levei uns 30 anos pra compreender que isso significava que ela detestava o trabalho. Mas eu saí de casa cedo, casei tão feliz. E odiando domingos à noite. A cada ano que passava era pior, até ficar completamente insuportável. E aí um dia eu pensei “claro, eu odeio esse trabalho”. Desse dia até eu efetivamente assinar a demissão se passaram alguns anos. Anos de domingos sombrios.  Pedir demissão foi tão melhor do que eu planejei que fica até difícil explicar. Mas eu voltei a esse blog essencialmente pra falar disso, um dia de cada vez. O estar livre das segundas de trabalho foi a parte mais imediatamente surpreendente. Infelizmente, e eu não consigo compreender por que, os domingos voltaram a ser dolorosos. Piorou com a se

Hallelujah

Se tem uma parada que me irrita é gente maluca e fanática, geralmente crente, que solta a frase “eu sei que você não acredita em Deus mas…” EU SOU CRISTÃ, CARALHO Mas pra esses doentes (medicados porém não a contento) uma pessoa que “acredita em Deus” precisa 1) frequentar alguma igreja; 2) tratar todos os outros como pecadores sócios do Belzebu. Definitivamente não é como eu enxergo as coisas. Desde bem moça eu tenho essa impressão que se eu escolhesse e seguisse uma religião tudo seria bem mais fácil  mas eu nunca me encaixei - CEJURA, MONA? De uns tempos pra cá, considerando a sucessão de acontecimentos fortuitos (pq não nomear do jeito certo UMA PORRA DE UMA MARÉ DE AZAR DO CARALHO) eu tenho pensado seriamente se isso tudo não é um castigo de Deus por eu ter feito tantos planos tendo por base premissas minimamente questionáveis do ponto de vista da moralidade. Sim eu sou uma pessoa com propósitos éticos nem fortalecidos, mas esse limiar da moralidade pequeno burguesa cristã definit

A Estrada

Não é que eu goste de parecer amarga. Eu simplesmente sei que sou. Minha última analista (a antes da atual) um belo dia olhou pra mim rindo e disse “isso é recalque” e eu fiquei ofendida uns 2 dias até descobrir que existia o conceito freudiano de recalque. E ela tinha razão, inclusive se vc procurar numa enciclopédia vai estar assim mesmo com minha fotinho do lado “ uma experiência traumática ou uma percepção que o ego resiste em aceitar para si é reprimida para o inconsciente, sem que o sujeito tenha clareza de que houve esta repressão” No caso claro que estamos falando da parte da percepção, eu não tenho um histórico traumático de verdade.  Mas independente da não existência de traumas propriamente ditos a questão é que de alguma forma viver tudo que eu vivi, na ordem que eu vivi, e sendo eu quem eu sou, fez com que eu acumulasse comprimidos de amargura. E eu me vi tomando pela manhã há tanto tempo que ficou assim mesmo.  Já diria a grande filósofa da contemporaneidade, Márcia Sensi

Eu nasci há dez mil anos atrás

 Embora a gente saiba perfeitamente que daqui 3 dias vou esquecer desse espaço, até lá podemos tentar retomar o fio da meada.  Da última vez que dei notícias meu filho tinha acabado de fazer 1 ano. Ainda mamava (bom isso durou, mas uma coisa de cada vez), não dormia e nem falava. Eu estava namorando a possibilidade de ter um segundo bebê, mas era pq o marido queria… Na verdade quando meu filho fez um ano eu estava no meu menor peso da vida, 30 anos com o peso que tinha aos 15. Meu cérebro tinha virado um mingau, pela falta de sono e excesso de cansaço. Eu não vivia, eu mal e mal sobrevivi. Foi o ano mais exaustivo da minha vida, e deixou marcas. Eu tinha então 30 anos, um filho bebê, uma vida perfeita. Tinha comprado um apartamento, e deixado ele lindo. Tinha viajado pra Europa, pros Estados Unidos, tava com grana. Fiz a bariátrica e fiquei magra. Casada com um homem perfeito, e completamente apaixonada. Mas 2 coisas já pareciam estranhas: eu já dava sinais de insatisfação emocional; e

Era um garoto que como eu Amava os Beatles e os Rolling Stones

Ela era uma menina inteligente, esperta, até gentil. Não era genial, nem a mais desenrolada. Tinha problemas de temperamento, um humor difícil. Mas era uma boa menina.  Ela podia tudo. Ela teve tudo. Passou pela vida tendo muitas oportunidades e poucos desafios. Deram na mão dela todas as ferramentas necessárias: saúde, educação, suporte emocional. Era só não fazer uma merda muito grande.  Bom, nenhuma grande merda foi feita. Juro! Erros sim, claro. Que não os comete? Mas nenhum erro grotesco, nenhum tropeço assim tão relevante. Ela estudou, conheceu gente, visitou lugares. Leu, assistiu. Se encheu de conhecimentos bons. Nunca foi a melhor, nem queria. Era só não falhar. Tava tudo bem.  Mas inexplicavelmente, mesmo com um caminho tão sedimentado e frutífero, mesmo tendo o cuidado de não fazer nada grave que pudesse estragar tudo, ela simplesmente não conseguiu dar certo. Passou a vida se iludindo de que seu momento ia chegar. O que ela não sabia é que não havia garantias.  E deu errado

25 anos de terapia e continua doida

Estava eu curtindo uma terrível crise existencial, imersa em pensamentos ligeiramente negativos demais, considerando que toda a minha vida se trata apenas de uma grande piada (e eu sou a palhaça). Pois bem AINDA ASSIM achando q a vida é uma foda mal dada de 5 minutos, estava eu angustiada de soterrar os meus 7,5 leitores de Twitter nas minhas lamentações de menina mimada (menina ONDE, eu vou fazer 40). Aí eu me lembrei. Como uma corrente elétrica eu me lembrei q já tive blogs. E entrei. E percebi que este aqui está em silêncio há mais de 10 anos.  Ou seja: achei meu lugar.  Ninguém vai ler. Ninguém acompanha. Não vou chatear ninguém. E tenho dez anos de escolhas ruins pra dividir.  Faz 25 anos que eu estou em terapia. Na verdade mais, porém eu gosto da estética de dizer “eu faço terapia há 25 anos, sabia?”  E eu continuo com as mesmas questões. Exatamente as mesmas. Experimentaras de formas diferentes claro. Mas é a mesma merda. Eu sofro CONSCIENTEMENTE há 25 anos. E hoje por acaso eu