Poema

Cresci tendo um terror profundo às noites de domingo. Era um momento de ansiedade , desprazer. Mal começavam as pegadinhas do Faustão eu sentia o coração acelerar.

Mamãe dizia que ela tinha me ensinado esse comportamento, sem querer (mas se responsabilizava). Eu mesma levei uns 30 anos pra compreender que isso significava que ela detestava o trabalho.


Mas eu saí de casa cedo, casei tão feliz. E odiando domingos à noite. A cada ano que passava era pior, até ficar completamente insuportável. E aí um dia eu pensei “claro, eu odeio esse trabalho”. Desse dia até eu efetivamente assinar a demissão se passaram alguns anos. Anos de domingos sombrios. 


Pedir demissão foi tão melhor do que eu planejei que fica até difícil explicar. Mas eu voltei a esse blog essencialmente pra falar disso, um dia de cada vez. O estar livre das segundas de trabalho foi a parte mais imediatamente surpreendente.


Infelizmente, e eu não consigo compreender por que, os domingos voltaram a ser dolorosos. Piorou com a semi separação do atual marido. Enquanto a gente tava bem eu podia pedir q ele me desse um abraço bem apertado e sentir o cheiro dele bem pertinho era um calmante incrível (na verdade ainda é, só que eu nunca mais dormi com ele num domingo). 


Hoje, e há várias semanas (talvez vários meses) eu deito exausta e não consigo dormir. Faço contas, penso em problemas, me sobe uma agonia. Voltou a ser o pior momento de todas as semanas. Só que agora eu não tenho um trabalho merda pra culpar. Agora a ansiedade é pq eu não tenho trabalho nenhum. Não sei o que vai acontecer da minha vida. 


Não me entendam mal: eu tinha planos. Vários. E todos deram errado. E eu não sei se insisto no caminho que tracei (e que ainda não deu errado mas também certo não deu), ou se eu penso em outra coisa. QUE COISA? Eu não tenho talentos, não sou particularmente inteligente ou esperta. E eu tô velha pra recomeçar do zero absoluto, teria q ser nesse caminho (aí de novo: mas como?) 


É tanta angústia que eu deito e as lágrimas escorrem. Quase todos os dias, quase todas as manhãs. Mas especialmente no fim do domingo. 


De repente, a gente vê que perdeuOu está perdendo alguma coisaMorna e ingênuaQue vai ficando no caminhoQue é escuro e frio, mas também bonito

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