Sei Lá (A Vida Tem Sempre Razão)

Hoje soube que meu tio avô mais novo morreu  sem aviso sem despedidas sem motivo maior. Ninguém lembrou de me contar quando aconteceu, não tive a escolha de ir no enterro. Não que eu goste de ir.

Ano passado ele fez uma festa de 80 anos e eu fui chamada (não por iniciativa dele, eu sou desimportante). E desde antes disso ele vinha dizendo todas as vezes que eu o vi que a vida tinha perdido a razão. Repetia que já tinha vivido muito, que não fazia mais questão. Eu ficava pensando….

Quando minha mãe fez 60 anos ela entrou nessa viagem aí, que a vida já era. Eu tentei argumentar que a vida podia ser boa de novas formas, não com o vigor da juventude mas cheia de prazeres. Uma boa massa, um excelente vinho. Assistir o por do sol. Ver filmes, encontrar amigos, construir experiências. Mas ela estava deprimida. E aos 62 descobriu um câncer terminal. E morreu, e nunca mais a vida foi a mesma.

Meu tio avô vinha desanimado… e ele parecia saudável. Casado com uma grande jararaca, nunca teve coragem de se separar. Apaixonado pelos filhos e netos. Andava preocupado com dinheiro. E repetia todas as vezes “acho que já vivi o bastante”. Me disseram que ele descobriu um câncer terminal há 2 meses, mas nunca me comentaram antes. Não conseguiu completar 81. Eu fico pensando…

Mesmo nos dias mais chatos eu sempre fui tão apegada à vida. Minha angústia é que eu desejo taaaaantas coisas que fico nervosa se vai dar tempo. Não consigo imaginar me sentar no sofá e concluir “até que foi bom mas não quero mais”. Eu quero muito mais.

Nem é sobre as pessoas que vão sentir falta (e vão). Não é sobre a fé de existir um depois (e eu espero que haja). É sobre estar aqui nesse mundo e gozar todos os deliciosos prazeres da carne. E da alma. Uma cervejinha gelada no silêncio. Uma comida temperada com 2 quilos de cebola e alho. Uma música capaz de fazer a lágrima rolar. Um abraço que preenche todo o ambiente. Um cheiro quente e úmido sussurrando sobre meu ombro. Eu gosto tanto de viver que 80 anos me parecem muito pouco. 


Tem dias que eu fico
Pensando na vida
E sinceramente
Não vejo saída
Como é, por exemplo
Que dá pra entender
A gente mal nasce
Começa a morrer

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